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segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Fernão Velho, Maceió/AL.


O desafio do barão e o desinteresse do hoteleiro

    A Historia da indústria têxtil em Alagoas, inicia-se exatamente em Fernão Velho, quando José Antonio de Mendonça, o barão de Jaraguá, inaugurou em 1858, a primeira fábrica de tecidos da então província. Foi um desafio daquele empreendedor, que deu certo. Por quase 140 anos, a fábrica funcionou passando pela fase do barão, de um comendador, outros industriais, até chegar a família de Othon Bezerra de Melo, de Pernambuco, que enveredou pelo ramo hoteleiro, desinteressou-se pelo têxtil, e acaba de fechar aquela unidade industrial.

   No apogeu da indústria têxtil, a fábrica Carmem, de Fernão Velho, chegou a possuir cerca de 4 mil empregados, que viviam no distrito com todo conforto e segurança, em casas padronizadas, com energia elétrica, água canalizada e rede de esgotos, alem e lazer completo, salário em dia e todos os direitos trabalhistas. 

   Os bailes do Recreio Operário, o Natal, o Ano Novo, o Carnaval, o São João e outras festividades são lembradas pelos moradores com muita saudade. O distrito industrial, sempre foi festeiro. Era visitado por gente da capital, Rio Largo, Satuba, Utinga e outras localidades servidas pela linha férrea. 

   Fernão Velho detém uma população de mais de 10 mil habitantes, bem superior a dezenas de cidades alagoanas. Sempre dependiam da fábrica. Com crise na industria têxtil, a fábrica foi reduzindo a produção, desempregando dezenas de trabalhadores que, aos poucos, se integravam em outros setores, em Maceió, e o distrito passou a servir mais para dormitório, com maioria passando o dia na capital e voltando a noite.

Nos tempos do barão e do comendador

    A fábrica de Fernão Velho já pertenceu a um barão e a um comendador, respectivamente a o barão de Jaraguá e o comendador Jacintho Nunes Leite. Quando o grupo Othon Bezerra de Melo, adquiriu a unidade industrial, toda a estrutura já estava montada.
   Os Bezerra Melo imprimiram a modernização, chegando aos tempos da legislação trabalhista. O Sindicato dos Trabalhadores sempre manteve-se em sua missão de lutar pela melhoria da classe operária, conquistando muitos benefícios. Mas nos tempos do barão e do comendador, mesmo sem a CLT, todos os trabalhadores recebiam assistência completa. A fábrica servia de modelo na economia alagoana.

Mata Atlântica continua preservada em Fernão Velho

   O pouco que existe de Mata Atlântica em Alagoas, continua sendo preservada em Fernão Velho. Ainda existe muito verde circundando o distrito. Mas grande parte do patrimônio da família Bezerra Melo foi devastada para dar lugar a loteamentos, principalmente na parte mais alta.

   O açude, rodeado de mata, é uma atração à parte a todos aqueles que se dirigem a Fernão Velho pela rodovia. A paisagem é deslumbrante. O distrito é margeado pela lagoa Mundaú, proporcionando um dos mais bonitos visuais de Alagoas. As matas de Fernão Velho já serviram para a caça e, ainda, para treinamento militar. Os futuros proprietários (se aparecer algum investidor) devem preservar aquele paraíso.


Moradores ainda preferem o trem

   A Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) continua assegurando o transporte dos moradores de Fernão Velho, que pagam uma passagem mais barata, tem horários determinados para ir e vir a capital, e ainda usufruem de uma bonita paisagem beirando a lagoa Mundaú. Desde o século passado, o distrito é servido pelo trem de passageiros. Antes, o movimento era mais intenso, já que passavam os trens em demanda a Paquevira, Porto Real do Colégio e o Recife.
   A estação era outro ponto de lazer para os jovens do distrito, que paqueravam os passageiros ou recebiam encomendas. Com uma longa plataforma, a estação também servia para os ambulantes. Em dia de festa, fervilhava de gente vinda de Maceió, Rio Largo e outras cidades.

O povo de Fernão Velho é trabalhador e festeiro

   Por quase um século e meio, Fernão Velho viveu dependendo basicamente da sua fábrica de tecidos, trabalhando em três turnos. Mas a população sempre teve uma fama hospitaleira e festeira. O Natal, o Ano Novo, o Carnaval, a festa do padroeiro, o São João e os bailes do Recreio Operário, atraiam muitos visitantes que chegavam de trem para se juntar à alegria contagiante de seus moradores.

   Todo este espírito festeiro, inspirou o prefeito Ronaldo Lessa a promover o mais animado São João do Estado naquele distrito industrial, levando muita gente da capital e de outras cidades, contratando as melhores bandas de forró, e transformando o local num autêntico arraiá.

   Vez por outra algum festeiro tem uma idéia e lança uma atração para “agitar” os moradores e visitantes. Assim, surgiu o Festival da Mão de Vaca, que passou para o calendário festivo do distrito. No Carnaval, a população sai às ruas, com blocos, para se divertir num ambiente que forma uma grande família. Tudo é motivo de festa. Os bares e restaurantes servem os melhores pratos com uma culinária típica da região da lagoa Mundaú. Não falta musica ao vivo e um povo festeiro e hospitaleiro.

Moradores não dependiam dos serviços do governo

   Desde sua fundação Fernão Velho nunca dependeu dos serviços públicos, até a coleta de lixo era dependência da fábrica. Escolas, postos de saúde, cinema, clube social, lojas, mercearias e outros serviços, sempre foram fornecidos. Lazer, cultura e consumo, perto de todos, sem necessidade de se deslocar até a capital.

   Antes do advento da televisão, os moradores de Fernão Velho tinham o Cine-teatro. Nos fins de semana, bailes no Recreio Operário ou manhãs de sol e jogos no outro clube, vizinho a fábrica. As crianças começavam cedo a estudar, sempre de graça e de excelente qualidade. 

   Ruas saneadas, arborizadas, as praças conservadas, casas pintadas, mesa farta e um povo bom e hospitaleiro, assim era Fernão Velho dos velhos tempos. Hoje, tudo depende da prefeitura, e sofre os mesmos problemas dos bairros da periferia.

Pesquisa e Texto: Jornalista Jair Barbosa Pimentel

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